entrevista

'Permanecer em casa é a melhor atitude', diz infectologista sobre prevenção ao coronavírus

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Rodrigo Nenê (Diário)

Na última segunda-feira, o médico infectologista Thiego Teixeira Cavalheiro foi o entrevistado da quinta - de seis ao todo - lives do Direto da Redação. Ele comentou os números de Santa  Maria e região acerca do novo coronavírus, além de medidas de prevenção para combatera infecção. Veja a entrevista:

Diário - Com dois casos confirmados em Santa Maria, as formas de prevenção mudam de alguma forma?
Dr. Thiego - É importante informar a população, porque as pessoas estão tendo informação das mais variadas fontes. Falo como especialista em doença infecciosa. A gente toma todo cuidado para falar todas as possibilidades de entendimento da população. Acredito que nós não iremos viver novamente essa situação, esperamos que não.

O fato que tem dois casos confirmados na cidade não muda nada do que nós já vinhamos enfatizando no passado. A perspectiva é muito clara. Esses dois casos vem num contexto em que há um número expressivo de casos suspeitos. A definição de casos leva em consideração aspectos clínicos, radiológicos em exames de imagem. Em aspecto laboratoriais, quando o exame sela o diagnóstico, mas isso não muda as atitudes que temos que tomar. A definição de casos só salienta o que já vínhamos falando. E nós fazemos um esforço enorme que nós chamamos de prevenção primária para que haja a circulação menor do vírus na sociedade, com impacto menor. O entendimento, de uma forma muito séria, é que ela é fundamental. É o momento que nós temos que tomar uma medida drástica de recomendar para que as pessoas não saiam de casa. Por exemplo, cirurgias eletivas, que não são de urgência, foram adiadas. Nós estamos pedindo encarecidamente que haja o entendimento de todos que o  que temos que fazer agora é ficar em casa para se proteger e proteger um familiar que tem risco maior de complicações com essa doença.

Diário -  Qual é a sua leitura desse cenário de comércio fechado e isolamento social?
Dr. Thiego -
Nós sabemos que tomar atitudes tão drásticas como essas como fechar universidades, mercados... são medidas difíceis de ser tomadas. E isso tem um impacto social e econômico muito grande. Por isso precisamos do respaldo técnico. Por que se prevalece o impacto de saúde. Se a gente não colocar a saúde como o nível primário, podemos ter todo o resto prejudicado. A gente pode fazer com que nossa economia se restabeleça, desde que a gente tenha saúde. Nós temos a obrigação, como profissional de saúde, quando se tem uma ameaça desse  nível, de tomar a decisão de recomendar tudo isso. O entendimento das pessoas que comandam o município disso foi crucial para que houvesse o alerta à população. Ter a rua vazia numa segunda-feira, que parece uma madrugada de um domingo. É para ficar assim por no mínimo duas semanas. O entendimento dos epidemiologistas que estão mapeando essa crise e estudaram o que aconteceu fora do país demonstra que essa é a atitude mais sábia para se tomar  agora.

O que me conforta é que quando a gente recomenda dizer a gente, equipe de infectologistas, tem certeza do que a gente tá falando para que o resultado lá na frente, daqui a dois meses, a gente entenda que o número de casos na nossa cidade foi menor. Eu não me importo ouvir de uma pessoa que "foi uma histeria e não precisava tudo isso". Eu respondo diferente "precisava sim, e as atitudes foram tomadas para que nós chegarmos lá com número de casos menores". Eu não quero chegar lá, em dois meses, e não ter feito nada. Nossa responsabilidade é levar isso para que a prevenção seja executada.

Diário - As pessoas precisam estar preocupadas só com grupos de riscos ou de uma forma geral?
Dr. Thiego -
A gente está tentando prever o futuro, o que é muito difícil. Então a gente leva em consideração dados científicos que nos dão uma estimativa. Onde essa estimativa foi respeitada, conseguiu-se um achatamento da curva epidêmica, a qual nos dá um desafogo. Onde não se foi adotadas as medidas, o impacto foi gigantesco. Eu quero que todos entendam que o fato de termos uma perspectiva de aumento de casos em abril se soma a um fator preocupante para nós. Vamos estar na entrada do inverno, que já é uma estação  do ano que tem impacto de saúde. As outras doenças continuam acontecendo. O paciente não tem "covid-19 na testa". Por isso, o que a gente não quer é que pessoas que estão  saudáveis se exponham de forma desnecessária em um ambiente hospitalar que não precisaria. O vírus está circulando na cidade, já foi decretado que tem transmissão comunitária. O que não queremos é que pessoas que não são do grupo de risco sejam vetores. A gente sabe que tem grupos com mortalidade maior, mas outros podem ser vetores.

Diário - É possível prever a velocidade de transmissão?
Dr. Thiego -
Todas as análises são bastante superficiais, porque não sabemos como vai ser o andamento da pandemia no nosso meio. São dados das experiências que houve na China, na Coréia do Sul, na Inglaterra, na Alemanha. São contextos de transmissibilidade diferentes, mas como regra tem um número muito importante, que é um paciente transmite para 2,7 pacientes. Isso não mudou muito. Vamos arredondar para três. Três transmitem para nove; nove para 27; 27 para 91... e assim vai. Em um mês, 406 pacientes. Num contexto de transmissão comunitária, a gente perde esse controle, porque muitos pacientes nem serão diagnosticados por não ter sintomas.

Diário - Isso vale para pacientes expostos e que não estejam em isolamento?
Dr. Thiego - Sem dúvida. Daí a importância de pacientes se restabelecer em casa. E falo mais, momentos de crises são filosóficos. A gente muda e passa a dar valor a atos que fazemos no dia a dia. A gente passa a perceber que tem coisas que não eram tão ruins. Estamos num momento de dois lados: o pânico e a instabilidade emocional e a racionalidade. Eu, como técnico, e demais colegas nos aproximamos da racionalidade porque temos que estar muito bem para enfrentar esse desafio, dar orientação, cuidar da população. Temos  estudado incansavelmente para que esse pânico se faça menor e a gente faça as recomendações.

Diário - O medo é algo que precisa ser atendido também?
Dr. Thiego -
Teve o momento da pandemia que se tinha casos importados e, depois, os casos de transmissão local. Nós chegamos no estágio de transmissão comunitária, não importa mais de onde o paciente veio. Nós somos a China, a Europa agora. A parte emocional é difícil. Nós temos que estabelecer nosso coeficiente emocional que é a base de tudo. Tem que cuidar muito do profissional de saúde para que todos se sintam capazes. As pessoas que tão em casa e pensam "será que tenho que mudar?" precisam buscar a racionalidade. Pensar que vamos ter êxito juntos lá na frente. 

Eu estou sendo o mais humano possível em dizer isso. Eu tenho minha mãe, que fez uma cirurgia de emergência recentemente, meus irmãos, tios... sei de várias pessoas que estão com medo. E esse medo se torna menor no momento em que tomamos as melhores atitudes. E permanecer em casa é a melhor atitude.

Diário - As pessoas que são só vetores preocupam, eles podem decidir não trabalhar, como fica a situação?
Dr. Thiego -
Eu gostaria de detalhar mais sobre grupo de riscos. As características clínicas da doença: uma vez que a covid-19 acomete um indivíduo, tem cinco dias até começar  a desenvolver os sintomas. A partir do momento que se desenvolve os sintomas, tem o período de  sete a 14 dias, em média 10 dias, que é o período de transmissibilidade. Pelo aspecto pandêmico do vírus, é possível que mesmo pacientes assintomáticos possa transmitir. Por isso a preocupação de estar em casa. Essa é uma das medidas que me faz falar que grupo de risco não adianta. O paciente adquire a doença pode evoluir de três formas. A primeira é sem complicações. Vai ter febre, tosse seca inicialmente, dor no corpo, falta de ar, coriza, dor de garganta e características parecidas com a gripe comum. Esse paciente, depois que passa o período de sintomas, melhora. Em 80% dos caso. 20% evoluem para um quadro mais chamativo. O paciente que tem falta de ar, que a febre melhora e volta. Esse paciente deve procurar o sistema de saúde para que haja uma estratégia melhor. E 5% desse 20% tem chance de evoluir para um quadro mais grave, que precisaria de UTI. De 100 pacientes, 80 vão bem. Esses nem precisam procurar atendimento. 20 vão precisar ir ao hospital, e 5 da UTI. Então, proporcionalmente, quem tem risco maior - diabético, hipertenso, pneumopata, imunodeprimidos - tende mais a curva para maior gravidade. 

Diário - E a febre....

 





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